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Bíblia completa pT.: Atos 22.

Cabeçalho

Atos 22.

Capítulos
1   a  7
8  a  14
15  a  21
22  a  27     Romanos



1. Varões irmãos e pais, ouvi agora a minha defesa perante vós.
2. E, quando ouviram falar-lhe em língua hebraica, maior silêncio guardaram. E disse
3. Quanto a mim, sou varão judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zelador de Deus, como todos vós hoje sois.
4. E persegui este caminho até à morte, prendendo, e metendo em prisões, tanto varões como mulheres,
5. Como também o sumo sacerdote me é testemunha, e todo o conselho dos anciãos: e, recebendo destes cartas para os irmãos, fui a Damasco para trazer maniatados para Jerusalém aqueles que ali estivessem, a fim de que fossem castigados.
6. Ora aconteceu que, indo eu já de caminho, e chegando perto de Damasco, quase ao meio dia, de repente me rodeou uma grande luz do céu,
7. E caí por terra, e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, porque me persegues?
8. E eu respondi: Quem és, Senhor? E disse-me: Eu sou Jesus nazareno, a quem tu persegues.
9. E os que estavam comigo viram, em verdade, a luz, e se atemorizaram muito; mas não ouviram a voz daquele que falava comigo.
10. Então disse eu: Senhor, que farei? E o Senhor disse-me: Levanta-te, e vai a Damasco, e ali se te dirá tudo o que te é ordenado fazer.
11. E, como eu não via, por causa do esplendor daquela luz, fui levado pela mão dos que estavam comigo, e cheguei a Damasco.
12. E um certo Ananias, varão piedoso conforme a lei, que tinha bom testemunho de todos os judeus que ali moravam,
13. Vindo ter comigo, e apresentando-se, disse-me: Saulo, irmão, recobra a vista. E naquela mesma hora o vi.
14. E ele disse: O Deus de nossos pais de antemão te designou para que conheças a sua vontade, e vejas aquele Justo, e ouças a voz da sua boca.
15. Porque hás-de ser sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido.
16. E agora porque te deténs? Levanta-te, e baptiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor.
17. E aconteceu que, tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado para fora de mim.
18. E vi aquele que me dizia: Dá-te pressa, e sai apressadamente de Jerusalém; porque não receberão o teu testemunho acerca de mim.
19. E eu disse: Senhor, eles bem sabem que eu lançava na prisão e açoitava nas sinagogas os que criam em ti.
20. E quando o sangue de Estêvão, tua testemunha, se derramava, também eu estava presente, e consentia na sua morte, e guardava os vestidos dos que o matavam.
21. E disse-me: Vai, porque hei-de enviar-te aos gentios de longe.
22. E ouviram-no até esta palavra, e levantaram a voz, dizendo: Tira da terra um tal homem, porque não convém que viva.
23. E, clamando eles, e arrojando de si os vestidos, e lançando pó para o ar,
24. O tribuno mandou que o levassem para a fortaleza, dizendo que o examinassem com açoites, para saber por que causa assim clamavam contra ele.
25. E, quando o estavam atando com correias, disse Paulo ao centurião que ali estava: É-vos lícito açoitar um romano, sem ser condenado?
26. E, ouvindo isto, o centurião foi, e anunciou ao tribuno, dizendo: Vê o que vais fazer, porque este homem é romano.
27. E, vindo o tribuno, disse-lhe: Diz-me, és tu romano? E ele disse: Sim.
28. E respondeu o tribuno: Eu com grande soma de dinheiro alcancei este direito de cidadão. Paulo disse: Mas eu sou-o de nascimento.
29. E logo dele se apartaram os que o haviam de examinar; e até o tribuno teve temor, quando soube que era romano, visto que o tinha ligado.
30. E no dia seguinte, querendo saber ao certo a causa por que era acusado pelos judeus, soltou-o das prisões, e mandou vir os principais dos sacerdotes, e todo o seu conselho; e, trazendo Paulo, o apresentou diante deles.

Capítulo 23.




1. E, pondo Paulo os olhos no conselho, disse: Varões irmãos, até ao dia de hoje tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência.
2. Mas o sumo sacerdote, Ananias, mandou aos que estavam junto dele que o ferissem na boca.
3. Então Paulo lhe disse: Deus te ferirá, parede branqueada: tu estás aqui assentado para julgar-me conforme a lei, e contra a lei me mandas ferir?
4. E os que ali estavam disseram: Injurias o sumo sacerdote de Deus?
5. E Paulo disse: Não sabia, irmãos, que era o sumo sacerdote; porque está escrito: Não dirás mal do príncipe do teu povo.
6. E Paulo, sabendo que uma parte era de saduceus e outra de fariseus, clamou no conselho: Varões irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseu, no tocante à esperança e ressurreição dos mortos sou julgado.
7. E, havendo dito isto houve dissensão entre os fariseus e saduceus; e a multidão se dividiu.
8. Porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa.
9. E originou-se um grande clamor; e, levantando-se os escribas da parte dos fariseus, contendiam, dizendo: Nenhum mal achamos neste homem, e, se algum espírito ou anjo lhe falou, não resistamos a Deus.
10. E, havendo grande dissensão, o tribuno, temendo que Paulo fosse despedaçado por eles, mandou descer a soldadesca, para que o tirassem do meio deles, e o levassem para a fortaleza.
11. E na noite seguinte, apresentando-se-lhe o Senhor, disse: Paulo tem ânimo; porque, como de mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma.
12. E, quando já era dia, alguns dos judeus fizeram uma conspiração, e juraram, dizendo que não comeriam nem beberiam enquanto não matassem a Paulo.
13. E eram mais de quarenta os que fizeram esta conjuração.
14. E estes foram ter com os principais dos sacerdotes e anciãos, e disseram: Conjurámo-nos, sob pena de maldição, a nada provarmos até que matemos a Paulo.
15. Agora, pois, com o conselho, rogai ao tribuno que vo-lo traga amanhã como que querendo saber mais alguma coisa de seus negócios, e, antes que chegue, estaremos prontos para o matar.
16. E o filho da irmã de Paulo, tendo ouvido acerca desta cilada, foi, e entrou na fortaleza, e o anunciou a Paulo.
17. E Paulo, chamando a si um dos centuriões, disse: Leva este mancebo ao tribuno, porque tem alguma coisa que lhe comunicar.
18. Tomando-o ele, pois, o levou ao tribuno, e disse: O preso Paulo, chamando-me a si, me rogou que te trouxesse este mancebo, que tem alguma coisa que dizer-te.
19. E o tribuno, tomando-o pela mão e pondo-se à parte, perguntou-lhe em particular: Que tens que me contar?
20. E disse ele: Os judeus se concertaram rogar-te que amanhã leves Paulo ao conselho, como que tendo de inquirir dele mais alguma coisa ao certo.
21. Mas tu não o creias; porque mais de quarenta homens de entre eles lhe andam armando ciladas: os quais se obrigaram, sob pena de maldição, a não comerem nem beberem até que o tenham morto; e já estão apercebidos, esperando de ti promessa.
22. Então o tribuno despediu o mancebo, mandando-lhe que a ninguém dissesse que lhe havia contado aquilo.
23. E, chamando dois centuriões, lhes disse: Aprontai para as três horas da noite duzentos soldados, e setenta de cavalo, e duzentos archeiros para irem até Cesaréia;
24. E aparelhai cavalgaduras, para que, pondo nelas a Paulo, o levem salvo ao presidente Félix.
25. E escreveu uma carta, que continha isto:
26. Cláudio Lísias, a Félix, potentissimo presidente, saúde.
27. Esse homem foi preso pelos judeus; e, estando já a ponto de ser morto por eles, sobrevim eu com a soldadesca, e o livrei, informado de que era romano.
28. E, querendo saber a causa por que o acusavam, o levei ao seu conselho.
29. E achei que o acusavam de algumas questões da sua lei; mas que nenhum crime havia nele digno de morte ou de prisão,
30. E, sendo-me notificado que os judeus haviam de armar ciladas a esse homem, logo to enviei, mandando também aos acusadores que perante ti digam o que tiverem contra ele. Passa bem.
31. Tomando pois os soldados a Paulo, como lhe fora mandado, o trouxeram de noite a Antipátris.
32. E no dia seguinte, deixando aos de cavalo irem com ele, tornaram à fortaleza.
33. Os quais, logo que chegaram a Cesaréia, e entregaram a carta ao presidente, lhe apresentaram Paulo.
34. E o presidente, lida a carta, perguntou de que província era; e, sabendo que da Cilícia,
35. Ouvir-te-ei, disse, quando também aqui vierem os teus acusadores. E mandou que o guardassem no pretório de Herodes.

Capítulo 24.




1. E cinco dias depois o sumo sacerdote Ananias desceu com os anciãos, e um certo Tértulo, orador, os quais compareceram perante o presidente contra Paulo.
2. E, sendo chamado, Tértulo começou a acusá-lo, dizendo:
3. Visto como por ti temos tanta paz e por tua prudência se fazem a este povo muitos e louváveis serviços, sempre e em todo o lugar, ó potentíssimo Félix, com todo o agradecimento o queremos reconhecer.
4. Mas, para que te não detenha muito, rogo-te que, conforme a tua equidade, nos ouças por pouco tempo.
5. Temos achado que este homem é uma peste, e promotor de sedições entre todos os judeus, por todo o mundo; e o principal defensor da seita dos nazarenos;
6. O qual intentou também profanar o templo: e por isso o prendemos, e conforme a nossa lei o quisemos julgar.
7. Mas, sobrevindo o tribuno Lísias, no-lo tirou de entre as mãos com grande violência,
8. Mandando aos seus acusadores que viessem a ti: e dele tu mesmo, examinando-o, poderás entender tudo o de que o acusamos.
9. E também os judeus o acusavam, dizendo serem estas coisas assim.
10. Paulo, porém, fazendo-lhe o presidente sinal que falasse, respondeu: Porque sei que já vai para muitos anos que desta nação és juiz, com tanto melhor ânimo respondo por mim.
11. Pois bem podes saber que não há mais de doze dias que subi a Jerusalém a adorar;
12. E não me acharam no templo falando com alguém, nem amotinando o povo nas sinagogas, nem na cidade.
13. Nem tampouco podem provar as coisas de que agora me acusam.
14. Mas confesso-te isto: que, conforme aquele caminho que chamam seita, assim sirvo a Deus de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos profetas.
15. Tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há-de haver ressurreição de mortos, assim dos justos como dos injustos.
16. E por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens.
17. Ora, muitos anos depois, vim trazer à minha nação esmolas e ofertas.
18. Nisto me acharam já santificado no templo, não em ajuntamentos, nem com alvoroços, uns certos judeus da Ásia,
19. Os quais convinha que estivessem presentes perante ti, e me acusassem, se alguma coisa contra mim tivessem.
20. Ou digam estes mesmos, se acharam em mim alguma iniquidade, quando compareci perante o conselho,
21. A não ser estas palavras, que, estando entre eles, clamei: Hoje sou julgado por vós acerca da ressurreição dos mortos.
22. Então Félix, havendo ouvido estas coisas, lhes pôs dilação, dizendo: Havendo-me informado melhor deste caminho, quando o tribuno Lísias tiver descido, então tomarei inteiro conhecimento dos vossos negócios.
23. E mandou ao centurião que o guardassem em prisão, tratando-o com brandura, e que a ninguém dos seus proibisse servi-lo ou vir ter com ele.
24. E alguns dias depois, vindo Félix com sua mulher Drusila, que era judia, mandou chamar a Paulo, e ouviu-o acerca da fé em Cristo.
25. E, tratando ele da justiça, e da temperança, e do juízo vindouro, Félix, espavorido, respondeu: Por agora vai-te, e em tendo oportunidade te chamarei.
26. Esperando ao mesmo tempo que Paulo lhe desse dinheiro, para que o soltasse; pelo que também muitas vezes o mandava chamar, e falava com ele.
27. Mas, passados dois anos, Félix teve por sucessor a Pórcio Festo; e, querendo Félix comprazer aos judeus, deixou a Paulo preso.

Capítulo 25.




1. Entrando pois Festo na província, subiu dali a três dias de Cesaréia a Jerusalém.
2. E o sumo sacerdote e os principais dos judeus compareceram perante ele contra Paulo, e lhe rogaram,
3. Pedindo como favor contra ele que o fizesse vir a Jerusalém, armando ciladas para o matarem no caminho.
4. Mas Festo respondeu que Paulo estava guardado em Cesaréia, e que ele brevemente partiria para lá.
5. Os que pois, disse, de entre vós têm poder, desçam comigo e, se neste varão houver algum crime, acusem-no.
6. E, não se demorando entre eles mais de dez dias, desceu a Cesaréia; e no dia seguinte, assentando-se no tribunal, mandou que trouxessem Paulo.
7. E, chegando ele, o rodearam os judeus que haviam descido de Jerusalém, trazendo contra Paulo muitas e graves acusações, que não podiam provar.
8. Mas ele, em sua defesa disse: Eu não pequei em coisa alguma contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César.
9. Todavia Festo, querendo comprazer aos judeus, respondendo a Paulo, disse: Queres tu subir a Jerusalém, e ser lá perante mim julgado acerca destas coisas?
10. Mas Paulo disse: Estou perante o tribunal de César, onde convém que seja julgado; não fiz agravo algum aos judeus, como tu muito bem sabes.
11. Se fiz algum agravo, ou cometi alguma coisa digna de morte, não recuso morrer; mas, se nada há das coisas de que estes me acusam, ninguém me pode entregar a eles; apelo para César.
12. Então Festo, tendo falado com o conselho, respondeu: Apelaste para César? Para César irás.
13. E, passados alguns dias, o rei Agripa e Berenice vieram a Cesaréia, a saudar Festo.
14. E, como ali ficassem muitos dias, Festo contou ao rei os negócios de Paulo, dizendo: Um certo varão foi deixado por Félix aqui preso,
15. Por cujo respeito os principais dos sacerdotes e os anciãos dos judeus, estando eu em Jerusalém, compareceram perante mim, pedindo sentença contra ele.
16. Aos quais respondi não ser costume dos romanos entregar algum homem à morte, sem que o acusado tenha presente os seus acusadores, e possa defender-se da acusação.
17. De sorte que, chegando eles aqui juntos, no dia seguinte, sem fazer dilação alguma, assentado no tribunal, mandei que trouxessem o homem,
18. Acerca do qual, estando presentes os acusadores, nenhuma coisa apontaram daquelas que eu suspeitava.
19. Tinham, porém, contra ele algumas questões acerca da sua superstição, e de um tal Jesus, defunto, que Paulo afirmava viver.
20. E, estando eu perplexo acerca da inquirição desta causa, disse se queria ir a Jerusalém, e lá ser julgado acerca destas coisas.
21. E, apelando Paulo para que fosse reservado ao conhecimento de Augusto, mandei que o guardassem até que o envie a César.
22. Então Agripa disse a Festo: Bem quisera eu também ouvir esse homem. E ele disse: Amanhã o ouvirás.
23. E, no dia seguinte, vindo Agripa e Berenice, com muito aparato, entraram no auditório com os tribunos e varões principais da cidade, sendo trazido Paulo por mandado de Festo.
24. E Festo disse: Rei Agripa, e todos os varões que estais presentes connosco: aqui vedes um homem de quem toda a multidão dos judeus me tem falado, tanto em Jerusalém como aqui, clamando que não convém que viva mais.
25. Mas, achando eu que nenhuma coisa digna de morte fizera, e apelando ele mesmo também para Augusto, tenho determinado enviar-lho.
26. Do qual não tenho coisa alguma certa que escreva ao meu senhor, e por isso perante vós o trouxe, principalmente perante ti, ó rei Agripa, para que, depois de interrogado, tenha alguma coisa que escrever.
27. Porque me parece contra a razão enviar um preso, e não notificar contra ele as acusações.

Capítulo 26.




1. Depois Agripa disse a Paulo: Permite-se-te que te defendas. Então Paulo, estendendo a mão em sua defesa, respondeu:
2. Tenho-me por venturoso, ó rei Agripa, de que perante ti me haja hoje de defender de todas as coisas de que sou acusado pelos judeus;
3. Mormente sabendo eu que tens conhecimento de todos os costumes e questões que há entre os judeus; pelo que te rogo que me ouças com paciência.
4. A minha vida, pois, desde a mocidade, qual haja sido, desde o princípio, em Jerusalém, entre os da minha nação, todos os judeus a sabem.
5. Sabendo de mim desde o principio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu.
6. E agora pela esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos pais, estou aqui e sou julgado.
7. À qual as nossas doze tribos esperam chegar, servindo a Deus continuamente, noite e dia. Por esta esperança, ó rei Agripa, eu sou acusado pelos judeus.
8. Pois quê? Julga-se coisa incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos?
9. Bem tinha eu imaginado que contra o nome de Jesus nazareno devia eu praticar muitos actos;
10. O que também fiz em Jerusalém. E, havendo recebido poder dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e quando os matavam eu dava o meu voto contra eles.
11. E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui.
12. Sobre o que, indo então a Damasco, com poder e comissão dos principais dos sacerdotes,
13. Ao meio dia, ó rei, vi no caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol, cuja claridade me envolveu a mim e aos que iam comigo.
14. E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em língua hebraica dizia: Saulo, Saulo, porque me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões.
15. E disse eu: Quem és, Senhor? E ele respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues;
16. Mas levanta-te e põe-te sobre teus pés, porque te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda;
17. Livrando-te deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio,
18. Para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão dos pecados pela fé em mim.
19. Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial.
20. Antes anunciei primeiramente aos que estão em Damasco e em Jerusalém, e por toda a terra da Judeia, e aos gentios, que se emendassem e se convertessem a Deus, fazendo obras dignas de arrependimento.
21. Por causa disto os judeus lançaram mão de mim no templo, e procuraram matar-me.
22. Mas, alcançando socorro de Deus, ainda até ao dia de hoje permaneço dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do que o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer,
23. Isto é, que o Cristo devia padecer, e, sendo o primeiro da ressurreição dos mortos, devia anunciar a luz a este povo e aos gentios.
24. E, dizendo ele isto em sua defesa, disse Festo em alta voz: Estás louco, Paulo: as muitas letras te fazem delirar.
25. Mas ele disse: Não deliro ó potentíssimo Festo; antes digo palavras de verdade e de um são juízo.
26. Porque o rei, diante de quem falo com ousadia, sabe estas coisas, pois não creio que nada disto lhe é oculto; porque isto não se fez em qualquer canto,
27. Crês tu nos profetas, ó rei Agripa? Bem sei que crês.
28. E disse Agripa a Paulo: Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão!
29. E disse Paulo: Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por muito, não somente tu, mas também todos quantos hoje me estão ouvindo, se tornassem tais qual eu sou, excepto estas cadeias.
30. E, dizendo ele isto, se levantou o rei, e o presidente, e Berenice, e os que com eles estavam assentados.
31. E, apartando-se dali, falavam uns com os outros, dizendo: Este homem nada fez digno de morte ou de prisões.
32. E Agripa disse a Festo: Bem podia soltar-se este homem, se não houvera apelado para César.

Capítulo 27.




1. E, como se determinou que havíamos de navegar para a Itália entregaram Paulo, e alguns outros presos, a um centurião por nome Júlio, da coorte augusta.
2. E, embarcando nós em um navio adramitino partimos navegando pelos lugares da costa da Ásia, estando connosco Aristarco, macedónio, de Tessalónica.
3. E chegámos no dia seguinte a Sidom, e Júlio, tratando Paulo humanamente, lhe permitiu ir ver os amigos, para que cuidassem dele.
4. E, partindo dali, fomos navegando abaixo de Chipre, porque os ventos eram contrários.
5. E, tendo atravessado o mar, ao longo da Cilícia e Panfília, chegámos a Mira, na Lícia.
6. E, achando ali o centurião um navio de Alexandria, que navegava para a Itália, nos fez embarcar nele.
7. E, como por muitos dias navegássemos vagarosamente, havendo chegado apenas defronte de Cnido, não nos permitindo o vento ir mais adiante, navegámos abaixo de Creta, junto de Salmona.
8. E, costeando-a dificilmente, chegámos a um lugar chamado Bons Portos, perto do qual estava a cidade de Laséia.
9. E, passado muito tempo, e sendo já perigosa a navegação, pois também o jejum já tinha passado, Paulo os admoestava,
10. Dizendo-lhes: Varões, vejo que a navegação há-de ser incómoda, e com muito dano, não só para o navio e carga, mas também para as nossas vidas.
11. Mas o centurião cria mais no piloto e no mestre, do que no que dizia Paulo.
12. E, como aquele porto não era cómodo para invernar, os mais deles foram de parecer que se partisse dali para ver se podiam chegar a Fénix, que é um porto de Creta que olha para a banda do vento da África e do Coro, e invernar ali.
13. E, soprando o sul brandamente, lhes pareceu terem já o que desejavam, e, fazendo-se de vela, foram de muito perto costeando Creta.
14. Mas não muito depois deu nela um pé de vento, chamado Euro-aquilão.
15. E, sendo o navio arrebatado, e não podendo navegar contra o vento, dando de mão a tudo, nos deixámos ir à-tôa.
16. E, correndo abaixo de uma pequena ilha chamada Clauda, apenas pudémos ganhar o batel.
17. E, levado este para cima usaram de todos os meios, cingindo o navio; e, temendo darem à costa na Sirte, amainadas as velas, assim foram à-toa.
18. E, andando nós agitados por uma veemente tempestade, no dia seguinte aliviaram o navio.
19. E ao terceiro dia nós mesmos, com as nossas próprias mãos, lançámos ao mar a armação do navio.
20. E, não aparecendo, havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma não pequena tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos.
21. E, havendo já muito que se não comia, então Paulo, pondo-se em pé no meio deles, disse: Fora, na verdade; razoável, ó varões, ter-me ouvido a mim e não partir de Greta, e assim evitariam este incómodo e esta perdição.
22. Mas agora vos admoesto a que tenhais bom ânimo, porque não se perderá a vida de nenhum de vós, mas somente o navio.
23. Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo,
24. Dizendo: Paulo, não temas; importa que sejas apresentado a César, e eis que Deus te deu todos quantos navegam contigo.
25. Portanto, ó varões, tende bom ânimo; porque creio em Deus, que há-de acontecer assim como a mim me foi dito.
26. É contudo necessário irmos dar numa ilha.
27. E, quando chegou a décima quarta noite, sendo impelidos de uma e outra banda no mar Adriático, lá pela meia noite suspeitaram os marinheiros que estavam próximos de alguma terra.
28. E, lançando o prumo, acharam vinte braças; e, passando um pouco mais adiante, tornando a lançar o prumo, acharam quinze braças.
29. E, temendo ir dar em alguns rochedos, lançaram da popa quatro âncoras, desejando que viesse o dia.
30. Procurando, porém, os marinheiros fugir do navio, e tendo já deitado o batel ao mar, como que querendo lançar as âncoras pela proa,
31. Disse Paulo ao centurião e aos soldados: Se estes não ficarem no navio, não podereis salvar-vos.
32. Então o soldados cortaram os cabos do batel, e o deixaram cair.
33. E, entretanto que o dia vinha, Paulo exortava a todos a que comessem alguma coisa, dizendo: É já hoje o décimo dia que esperais, e permaneceis sem comer, não havendo provado nada.
34. Portanto, exorto-vos a que comais alguma coisa, pois é para a vossa saúde; porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós.
35. E, havendo dito isto, tomando o pão, deu graças a Deus na presença de todos; e, partindo-o, começou a comer.
36. E, tendo já todos bom ânimo, puseram-se também a comer.
37. E éramos por todos no navio duzentas e setenta e seis almas.
38. E, refeitos com a comida, aliviaram o navio, lançando o trigo ao mar.
39. E, sendo já dia, não conheceram a terra; enxergaram porém uma enseada que tinha praia; e consultaram-se sobre se deveriam encalhar nela o navio.
40. E, levantando as âncoras, deixaram-no ir ao mar, largando também as amarras do leme; e, alçando a vela maior ao vento, dirigiram-se para a praia.
41. Dando, porém, num lugar de dois mares, encalharam ali o navio; e, fixa a proa, ficou imóvel, mas a popa abria-se com a força das ondas.
42. Então a ideia dos soldados foi que matassem os presos para que nenhum fugisse, escapando a nado.
43. Mas o centurião, querendo salvar a Paulo, lhes estorvou este intento; e mandou que os que pudessem nadar se lançassem primeiro ao mar, e se salvassem em terra;
44. E os demais, uns em tábuas e outros em coisas do navio. E assim aconteceu que todos chegaram à terra a salvo.

Capítulo 28.




1. E havendo escapado, então souberam que a ilha se chamava Malta.
2. E os bárbaros usaram connosco de não pouca humanidade; porque, acendendo uma grande fogueira, nos recolheram a todos por causa da chuva que caía, e por causa do frio.
3. E, havendo Paulo ajuntado uma quantidade de vides, e pondo-as no fogo, uma víbora, fugindo do calor, lhe acometeu a mão.
4. E os bárbaros, vendo-lhe a bicha pendurada na mão, diziam uns aos outros: Certamente este homem é homicida, visto como, escapando do mar, a Justiça não o deixa viver.
5. Mas, sacudindo ele a bicha no fogo, não padeceu nenhum mal.
6. E eles esperavam que viesse a inchar ou a cair morto de repente; mas tendo esperado já muito, e vendo que nenhum incómodo lhe sobrevinha, mudando de parecer, diziam que era um deus.
7. E ali, próximo daquele lugar, havia umas herdades que pertenciam ao principal da ilha, por nome Públio, o qual nos recebeu e hospedou benignamente por três dias.
8. E aconteceu estar de cama enfermo de febres e disenteria o pai de Públio, que Paulo foi ver, e, havendo orado, pôs as mãos sobre ele, e o curou.
9. Feito pois isto, vieram também ter com ele os demais que na ilha tinham enfermidades, e sararam.
10. Os quais nos distinguiram também com muitas honras; e, havendo de navegar, nos proveram das coisas necessárias.
11. E três meses depois partimos num navio de Alexandria que invernava na ilha, o qual tinha por insígnia Castor e Pólux.
12. E, chegando a Siracusa, ficámos ali três dias.
13. Donde, indo costeando, viemos a Régio; e soprando, um dia depois, um vento do sul, chegámos no segundo dia a Puteolos,
14. Onde, achando alguns irmãos, nos rogaram que por sete dias ficássemos com eles; e depois nos dirigimos a Roma.
15. E de lá ouvindo os irmãos novas de nós, nos saíram ao encontro à praça de Apio e às três Vendas, e Paulo, vendo-os, deu graças a Deus, e tomou ânimo.
16. E, logo que chegámos a Roma, o centurião entregou os presos ao general dos exércitos; mas a Paulo se lhe permitiu morar sobre si à parte, com o soldado que o guardava.
17. E aconteceu que, três dias depois, Paulo convocou os principais dos judeus, e, juntos eles, lhes disse: Varões irmãos, não havendo eu feito nada contra o povo, ou contra os ritos paternos, vim contudo preso desde Jerusalém, entregue nas mãos dos romanos;
18. Os quais, havendo-me examinado, queriam soltar-me, por não haver em mim crime algum de morte.
19. Mas, opondo-se os judeus, foi-me forçoso apelar para César, não tendo, contudo, de que acusar a minha nação.
20. Por esta causa vos chamei, para vos ver e falar; porque pela esperança de Israel estou com esta cadeia.
21. Então eles lhe disseram: Nós não recebemos acerca de ti cartas algumas da Judeia, nem veio aqui algum dos irmãos, que nos anunciasse ou dissesse de ti mal algum.
22. No entanto bem quiséramos ouvir de ti o que sentes; porque, quanto a esta seita, notório nos é que em toda a parte se fala contra ela.
23. E, havendo-lhe eles assinalado um dia, muitos foram ter com ele à pousada, aos quais declarava com bom testemunho o reino de Deus, e procurava persuadi-los à fé de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas, desde pela manhã até à tarde.
24. E alguns criam no que se dizia; mas outros não criam.
25. E, como ficaram entre si discordes, se despediram, dizendo Paulo esta palavra: Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías,
26. Dizendo: Vai a este povo, e diz: De ouvido ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis; e, vendo, vereis, e de maneira nenhuma percebereis.
27. Porquanto o coração deste povo está endurecido, e com os ouvidos ouviram pesadamente, e fecharam os olhos, para que nunca com os olhos ouçam, nem do coração entendam, e se convertam e eu os cure.
28. Seja-vos pois notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouvirão.
29. E, havendo ele dito isto, partiram os judeus, tendo entre si grande contenda.
30. E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo,
31. Pregando o reino de Deus, e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum.

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