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Bíblia completa pT.: Lucas 19.

Cabeçalho

Lucas 19.

Capítulos
1  a  6
7  a  12
13  a  18
19  a  24     João



1. E, tendo Jesus entrado em Jerico, ia passando.
2. E eis que havia ali um varão chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico.
3. E procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura.
4. E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver; porque havia de passar por ali.
5. E, quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa.
6. E, apressando-se desceu, e recebeu-o gostoso.
7. E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador.
8. E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado.
9. E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão.
10. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.
11. E, ouvindo ele estas coisas, ele prosseguiu, e contou uma parábola; porquanto estava perto de Jerusalém, e cuidavam que logo se havia de manifestar o reino de Deus.
12. Disse pois: Certo homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino e voltar depois.
13. E, chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas, e disse-lhes: Negociai até que eu venha.
14. Mas os seus concidadãos aborreciam-no, e mandaram após ele embaixadores, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós.
15. E aconteceu que, voltando ele, depois de ter tomado o reino, disse que lhe chamassem aqueles servos, a quem tinha dado o dinheiro, para saber o que cada um tinha ganhado, negociando.
16. E veio o primeiro, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu dez minas.
17. E ele lhe disse: Bem está, servo bom, porque no mínimo foste fiel, sobre dez cidades terás autoridade.
18. E veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco minas.
19. E a este disse também: Sê tu também sobre cinco cidades.
20. E veio outro, dizendo: Senhor, aqui está a tua mina, que guardei num lenço;
21. Porque tive medo de ti, que és homem rigoroso, que tomas o que não puseste, e segas o que não semeaste.
22. Porém ele lhe disse: Mau servo, pela tua boca te julgarei; sabias que eu sou homem rigoroso, que tomo o que não pus, e sego o que não semeei;
23. Porque não meteste pois o meu dinheiro no banco, para que eu, vindo, o exigisse com os juros?
24. E disse aos que estavam com ele: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que tem dez minas.
25. E disseram-lhe eles: Senhor, ele tem dez minas.
26. Pois eu vos digo que a qualquer que tiver ser-lhe-á dado, mas ao que não tiver até o que tem lhe será tirado.
27. E, quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os diante de mim.
28. E, dito isto, ia caminhando adiante, subindo para Jerusalém.
29. E aconteceu que, chegando perto de Betfagé, e de Betânia, ao monte chamado das Oliveiras, mandou dois dos seus discípulos,
30. Dizendo: Ide à aldeia que está defronte, e aí, ao entrar, achareis preso um jumentinho em que nenhum homem ainda se assentou; soltai-o e trazei-o;
31. E, se alguém vos perguntar: Porque o soltais? Assim lhe direis: Porque o Senhor o há de mister.
32. E, indo os que haviam sido mandados, acharam como lhes dissera.
33. E, quando soltaram o jumentinho, seus donos lhes disseram: Porque soltais o jumentinho?
34. E eles responderam: O Senhor o há de mister.
35. E trouxeram-no a Jesus: e, lançando sobre o jumentinho os seus vestidos; puseram Jesus em cima.
36. E, indo ele, estendiam no caminho os seus vestidos.
37. E, quando já chegava perto da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos, regozijando-se, começou a dar louvores a Deus em alta voz, por todas as maravilhas que tinha visto,
38. Dizendo: Bem-dito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu, e glória nas alturas.
39. E disseram-lhe de entre a multidão alguns dos fariseus: Mestre, repreende os teus discípulos.
40. E, respondendo ele, disse-lhes: Digo-vos que, se estes se calarem, as próprias pedras clamarão.
41. E, quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela,
42. Dizendo: Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos.
43. Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todas as bandas;
44. E te derribarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação.
45. E, entrando no templo, começou a expulsar todos os que nele vendiam e compravam,
46. Dizendo-lhes:Está escrito: A minha casa é casa de oração; mas vós fizestes dela covil de salteadores.
47. E todos os dias ensinava no templo; mas os principais dos sacerdotes, e os escribas, e os principais do povo procuravam matá-lo,
48. E não achavam meio de o fazer, porque todo o povo pendia para ele, escutando-o.

Capítulo 20.




1. E aconteceu num daqueles dias que, estando ele ensinando o povo no templo, e anunciando o evangelho, sobrevieram os principais dos sacerdotes e os escribas com os anciãos,
2. E falaram-lhe, dizendo: Diz-nos, com que autoridade fazes estas coisas? Ou, quem é que te deu esta autoridade?
3. E, respondendo ele, disse-lhes: Também eu vos farei uma pergunta dizei-me pois:
4. O baptismo de João era do céu ou dos homens?
5. E eles arrazoavam entre si, dizendo: Se dissermos: Do céu, ele nos dirá: Então porque o não crestes?
6. E se dissermos: Dos homens; todo o povo nos apedrejará, pois têm por certo que João era profeta.
7. E responderam que não sabiam donde era.
8. E Jesus lhes disse: Tampouco vos direi com que autoridade faço isto.
9. E começou a dizer ao povo esta parábola: Certo homem plantou uma vinha, e arrendou-a a uns lavradores, e partiu para fora da terra por muito tempo;
10. E no próprio tempo mandou um servo aos lavradores, para que lhe dessem dos frutos da vinha; mas os lavradores, espancando-o, mandaram-no vazio.
11. E tornou ainda a mandar outro servo; mas eles, espancando também a este, e afrontando-o, mandaram-no vazio.
12. E tornou ainda a mandar terceiro; mas eles, ferindo também a este, o expulsaram.
13. E disse o Senhor da vinha: Que farei? Mandarei o meu filho amado; talvez que, vendo-o, o respeitem.
14. Mas, vendo-o os lavradores, arrazoaram entre si, dizendo: Este é o herdeiro; vinde, matêmo-lo, para que a herança seja nossa.
15. E, lançando-o fora da vinha, o mataram. Que lhes fará pois o Senhor da vinha?
16. Irá, e destruirá estes lavradores, e dará a outros a vinha. E, ouvindo eles isto, disseram: Não seja assim!
17. Mas ele, olhando para eles, disse: Que é isto pois que está escrito? A pedra, que os edificadores reprovaram, essa foi feita cabeça da esquina.
18. Qualquer que cair sobre aquela pedra ficará em pedaços, e aquele sobre quem ela cair será feito em pó.
19. E os principais dos sacerdotes e os escribas procuravam lançar mão dele naquela mesma hora; mas temeram o povo: porque entenderam que contra eles dissera esta parábola.
20. E, trazendo-o debaixo de olho, mandaram espias, que se fingissem justos, para o apanharem nalguma palavra e o entregarem à jurisdição e poder do presidente.
21. E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, nós sabemos que falas e ensinas bem e rectamente, e que não consideras a aparência da pessoa, mas ensinas com verdade o caminho de Deus.
22. É-nos lícito dar o tributo a César ou não?
23. E entendendo ele a sua astúcia, disse-lhes: Porque me tentais?
24. Mostrai-me uma moeda. De quem tem a imagem e a inscrição? E respondendo eles disseram: De César.
25. Disse-lhes então: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
26. E não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e, maravilhados da sua resposta, calaram-se.
27. E, chegando-se alguns dos saduceus, que dizem não haver ressurreição, perguntaram-lhe,
28. Dizendo: Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se o irmão dalgum falecer, tendo mulher, e não deixar filhos, o irmão dele tome a mulher, e suscite posteridade a seu irmão.
29. Houve pois sete irmãos, e o primeiro tomou mulher, e morreu sem filhos;
30. E o segundo e o terceiro também a tomaram,
31. E igualmente os sete: todos eles morreram, e não deixaram filhos.
32. E por último, depois de todos, morreu também a mulher.
33. Portanto, na ressurreição, de qual deles será a mulher, pois que os sete por mulher a tiveram?
34. E, respondendo Jesus, disse-lhes: Os filhos deste mundo casam-se, e dão-se em casamento;
35. Mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dos mortos, nem hão-de casar, nem ser dados em casamento;
36. Porque já não podem mais morrer; pois são iguais, aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição.
37. E que os mortos hão-de ressuscitar também o mostrou Moisés junto da sarça, quando chama ao Senhor, Deus de Abraão, e Deus de Isaque, e Deus de Jacó.
38. Ora Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para ele vivem todos.
39. E, respondendo alguns dos escribas, disseram: Mestre, disseste bem.
40. E não ousavam perguntar-lhe mais coisa alguma.
41. E ele lhes disse: Como dizem que o Cristo é filho de Davi?
42. Visto como o mesmo Davi diz no livro dos Salmos: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita,
43. Até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés.
44. Se Davi lhe chama Senhor como é ele seu filho?
45. E, ouvindo-o todo o povo, disse Jesus aos seus discípulos:
46. Guardai-vos dos escribas, que querem andar com vestidos compridos; e amam as saudações nas praças, e as principais cadeiras nas sinagogas, e os primeiros lugares nos banquetes;
47. Que devoram as casas das viúvas, fazendo, por pretexto, largas orações. Estes receberão maior condenação.

Capítulo 21.




1. E, olhando ele viu os ricos lançarem as suas ofertas na arca do tesouro;
2. E viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas;
3. E disse: Em verdade vos digo que lançou mais do que todos, esta pobre viúva;
4. Porque todos aqueles deitaram para as ofertas de Deus, do que lhes sobeja; mas esta, da sua pobreza, deitou todo o sustento que tinha.
5. E, dizendo alguns a respeito do templo, que estava ornado de formosas pedras e dádivas, disse:
6. Quanto a estas coisas que vedes, dias virão em que se não deixará pedra sobre pedra, que não seja derribada.
7. E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, quando serão pois estas coisas? E que sinal haverá quando isto estiver para acontecer?
8. Disse então ele: Vede não vos enganem, porque virão muitos em meu nome, dizendo: Sou eu, e o tempo está próximo; não vades portanto após eles.
9. E, quando ouvirdes de guerras e sedições, não vos assusteis. Porque é necessário que isto aconteça primeiro, mas o fim não será logo.
10. Então lhes disse: Levantar-se-á nação contra nação, e reino contra reino;
11. E haverá em vários lugares grandes terramotos, e fomes e pestilências; haverá também coisas espantosas, grandes sinais do céu.
12. Mas antes de todas estas coisas lançarão mão de vós, e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e às prisões, e conduzindo-vos à presença de reis e presidentes, por amor do meu nome.
13. E vos acontecerá isto para testemunho.
14. Proponde pois em vossos corações não premeditar como haveis de responder;
15. Porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem.
16. E até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós.
17. E de todos sereis odiados por causa do meu nome.
18. Mas não perecerá um único cabelo da vossa cabeça.
19. Na vossa paciência possuí as vossas almas.
20. Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação.
21. Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam; e, os que nos campos, não entrem nela.
22. Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas.
23. Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias! Porque haverá grande aperto na terra, e ira sobre este povo.
24. E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem.
25. E haverá sinais no sol e na lua e nas estrelas; e na terra angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas;
26. Homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo. Porquanto as virtudes do céu serão abaladas.
27. E então verão vir o Filho do homem numa nuvem, com poder e grande glória.
28. Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima.
29. E disse-lhes uma parábola: Olhai para a figueira, e para todas as árvores;
30. Quando já têm rebentado, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão.
31. Assim também vós quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto.
32. Em verdade vos digo que não passará esta geração até que tudo aconteça.
33. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não hão-de passar.
34. E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia.
35. Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a terra.
36. Vigiai pois em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão-de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem.
37. E de dia ensinava no templo, e à noite, saindo, ficava no monte chamado das Oliveiras.
38. E todo o povo ia ter com ele ao templo, de manhã cedo, para o ouvir.

Capítulo 22.




1. Estava pois perto a festa dos asmos, chamada a páscoa.
2. E os principais dos sacerdotes, e os escribas, andavam procurando como o matariam; porque temiam o povo.
3. Entrou, porém, Satanás em Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, o qual era do número dos doze;
4. E foi, e falou com os principais dos sacerdotes, e com os capitães, de como lho entregaria;
5. Os quais se alegraram, e convieram em lhe dar dinheiro.
6. E ele concordou; e buscava oportunidade para lho entregar sem alvoroço.
7. Chegou, porém, o dia dos asmos, em que importava sacrificar a páscoa:
8. E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos.
9. E eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos?
10 E ele lhes disse: Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar.
11. E direis ao pai de família da casa: O Mestre te diz: Onde está o aposento em que hei-de comer a páscoa com os meus discípulos?
12. Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado; aí fazei preparativos.
13. E, indo eles, acharam como lhes havia sido dito; e prepararam a páscoa.
14. E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e com ele os doze apóstolos,
15. E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça;
16. Porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus.
17. E tomando o cálice, e havendo dado graças, disse: Tomai-o, e reparti-o entre vós;
18. Porque vos digo que já não beberei do fruto da vide, até que venha o reino de Deus.
19. E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim.
20. Semelhantemente tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós.
21. Mas eis que a mão do que me trai está comigo à mesa.
22. E, na verdade, o Filho do homem vai segundo o que está determinado; mas ai daquele homem por quem é traído!
23. E começaram a perguntar entre si qual deles seria o que havia de fazer isto.
24. E houve também entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior.
25. E ele lhes disse: Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores.
26. Mas não sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve.
27. Pois qual é maior: quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu porém, entre vós sou como aquele que serve.
28. E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações.
29. E eu vos destino o reino, como meu Pai mo destinou;
30. Para que comais e bebais à minha mesa no meu reino, e vos assenteis sobre tronos, julgando as doze tribos de Israel.
31. Disse também o Senhor; Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo;
32. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos.
33. E ele lhe disse: Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte.
34. Mas ele disse: Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conheces.
35. E disse-lhes: Quando vos mandei sem bolsa, alforge, ou alparcas, faltou-vos porventura alguma coisa? Eles responderam: Nada.
36. Disse-lhes pois: Mas agora, aquele que tiver bolsa, tome-a, como também alforge; e, o que não tem espada, venda o seu vestido e compre-a;
37. Porquanto vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Porque o que está escrito de mim terá cumprimento.
38. E eles disseram: Senhor, eis aqui duas espadas. E ele lhes disse: Basta.
39. E, saindo, foi, como costumava, para o Monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram.
40. E, quando chegou àquele lugar, disse-lhes: Orai, para que não entreis em tentação.
41. E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava,
42. Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice, todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.
43. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava.
44. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.
45. E, levantando-se da oração, veio para os seus discípulos, e achou-os dormindo de tristeza.
46. E disse-lhes: Porque estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação.
47. E, estando ele ainda a falar, surgiu uma multidão; e um dos doze, que se chamava Judas, ia adiante dela, e chegou-se a Jesus para o beijar.
48. E Jesus lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do homem?
49. E, vendo os que estavam com ele o que ia suceder, disseram-lhe: Senhor, feriremos à espada?
50. E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita.
51. E, respondendo Jesus, disse: Deixai-os; basta. E, tocando-lhe a orelha, o curou.
52. E disse Jesus aos principais dos sacerdotes, e capitães do templo, e anciãos, que tinham ido contra ele: Saístes, como a um salteador, com espada e varapaus?
53. Tenho estado todos os dias convosco no templo, e não estendestes as mãos contra mim, mas esta é a vossa hora e o poder das trevas.
54. Então, prendendo-o, o levaram, e o meteram em casa do sumo sacerdote. E Pedro seguia-o de longe.
55. E, havendo-se acendido fogo no meio do pátio, estando todos sentados, assentou-se Pedro entre eles.
56. E como certa criada, vendo-o estar assentado ao fogo, pusesse os olhos nele, disse: Este também estava com ele.
57. Porém ele negou-o, dizendo: Mulher, não o conheço.
58. E, um pouco depois, vendo-o outro, disse: Tu és também deles. Mas Pedro disse: Homem, não sou.
59. E, passada quase uma hora, um outro afirmava, dizendo: Também este verdadeiramente estava com ele, pois também é galileu.
60. E Pedro disse: Homem, não sei o que dizes. E logo, estando ele ainda a falar, cantou o galo.
61. E, virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes.
62. E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente.
63. E os homens que detinham Jesus zombavam dele, ferindo-o.
64. E, vendando-lhe os olhos, feriam-no no rosto, e perguntavam-lhe, dizendo: Profetiza, quem é que te feriu?
65. E outras muitas coisas diziam contra ele, blasfemando.
66. E logo que foi dia ajuntaram-se os anciãos do povo, e os principais dos sacerdotes e os escribas, e o conduziram ao seu concílio;
67. E lhe perguntaram: És tu o Cristo? Diz-no-lo. Ele replicou: Se vo-lo disser, não o crereis:
68. E também, se vos perguntar, não me respondereis, nem me soltareis.
69. Desde agora o Filho do homem se assentará à direita do poder de Deus.
70. E disseram todos: Logo, és tu o Filho de Deus? E ele lhes disse: Vós dizeis que eu sou.
71. Então disseram: De que mais testemunho necessitamos? Pois nós mesmos o ouvimos da sua boca.

Capítulo 23.




1. E, levantando-se toda a multidão deles, o levaram a Pilatos.
2. E começaram a acusa-lo, dizendo: Havemos achado este, pervertendo a nossa nação, proibindo dar o tributo a César, e dizendo que ele mesmo é Cristo, o rei.
3. E Pilatos perguntou-lhe, dizendo: Tu és o Rei dos Judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.
4. E disse Pilatos aos principais dos sacerdotes, e à multidão: Não acho culpa alguma neste homem.
5. Mas eles insistiam cada vez mais, dizendo: Alvoroça o povo ensinando por toda a Judeia, começando desde a Galileia até aqui.
6. Então Pilatos, ouvindo falar da Galileia, perguntou se aquele homem era galileu.
7. E sabendo que era da jurisdição de Herodes, remeteu-o a Herodes, que também naqueles dias estava em Jerusalém.
8. E Herodes, quando viu a Jesus, alegrou-se muito; porque havia muito que desejava vê-lo, por ter ouvido dele muitas coisas; e esperava que lhe veria fazer algum sinal;
9. E interrogava-o com muitas palavras, mas ele nada lhe respondia.
10. E estavam os principais dos sacerdotes, e os escribas, acusando-o com grande veemência.
11. E Herodes, com os seus soldados, desprezou-o, e, escarnecendo dele, vestiu-o de uma roupa resplandecente e tornou a enviá-lo a Pilatos.
12. E no mesmo dia Pilatos e Herodes entre si se fizeram amigos; pois dantes andavam em inimizade um com o outro.
13. E, convocando Pilatos os principais dos sacerdotes, e os magistrados, e o povo, disse-lhes:
14. Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste homem.
15. Nem mesmo Herodes, porque a ele vos remeti, e eis que não tem feito coisa alguma digna de morte.
16. Castigá-lo-ei pois e soltá-lo-ei.
17. E era-lhe necessário soltar-lhes um pela festa.
18. Mas toda a multidão clamou à uma, dizendo: Fora daqui com este, e solta-nos Barrabás.
19. O qual fora lançado na prisão por causa de uma sedição feita na cidade, e de um homicídio.
20. Falou pois outra vez Pilatos, querendo soltar a Jesus.
21. Mas eles clamavam em contrário, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o.
22. Então ele, pela terceira vez, lhes disse: Mas que mal fez este? Não acho nele culpa alguma de morte. Castigá-lo-ei pois, e soltá-lo-ei.
23. Mas eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E os seus gritos, e os dos principais dos sacerdotes, redobravam.
24. Então Pilatos julgou que devia fazer o que eles pediam,
25. E soltou-lhes o que fora lançado na prisão por uma sedição e homicídio, que era o que pediam; mas entregou Jesus à vontade deles.
26. E quando o iam levando, tomaram um certo Simão, cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para que a levasse após Jesus.
27. E seguia-o grande multidão de povo e de mulheres, as quais batiam nos peitos, e o lamentavam.
28. Porém Jesus, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos.
29. Porque eis que hão-de vir dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que não geraram, e os peitos que não amamentaram!
30. Então começarão a dizer aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos.
31. Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao seco?
32. E também conduziram outros dois, que eram malfeitores, para com ele serem mortos.
33. E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram, e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda.
34. E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem. E, repartindo os seus vestidos, lançaram sortes.
35. E o povo estava olhando. E também os príncipes zombavam dele, dizendo: Aos outros salvou, salve-se a si mesmo, se este é o Cristo, o escolhido de Deus.
36. E também os soldados o escarneciam, chegando-se a ele, e apresentando-lhe vinagre,
37. E dizendo: Se tu és o Rei dos Judeus salva-te a ti mesmo.
38. E também por cima dele estava um título, escrito em letras gregas, romanas, e hebraicas: Este é o Rei dos Judeus.
39. E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós.
40. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?
41. E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez.
42. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.
43. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.
44. E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até à hora nona,
45. Escurecendo-se o sol; e rasgou-se ao meio o véu do templo.
46. E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou.
47. E o centurião, vendo o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Na verdade, este homem era justo.
48. E toda a multidão que se ajuntara a este espectáculo, vendo o que havia acontecido, voltava batendo nos peitos.
49. E todos os seus conhecidos, e as mulheres que juntamente o haviam seguido desde a Galileia, estavam de longe vendo estas coisas.
50. E eis que um varão por nome José, senador, homem de bem e justo,
51. Que não tinha consentido no conselho e nos actos dos outros, de Arimatéia, cidade dos judeus, e que também esperava o reino de Deus,
52. Esse, chegando a Pilatos pediu o corpo de Jesus.
53. E havendo-o tirado, envolveu-o num lençol, e pô-lo num sepulcro escavado numa penha, onde ninguém ainda havia sido posto.
54. E era o dia da preparação, e amanhecia o sábado.
55. E as mulheres, que tinham vindo com ele da Galileia, seguiram-no também e viram o sepulcro, e como foi posto o seu corpo.
56. E, voltando elas, prepararam especiarias e unguentos; e no sábado repousaram, conforme o mandamento.

Capítulo 24.




1. E no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado, e algumas outras com elas.
2. E acharam a pedra revolvida do sepulcro.
3. E, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus.
4. E aconteceu que, estando elas perplexas a esse respeito, eis que pararam junto delas dois varões, com vestidos resplandecentes.
5. E, estando elas muito atemorizadas, e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Porque buscais o vivente entre os mortos?
6. Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galileia.
7. Dizendo: Convém que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite.
8. E lembraram-se das suas palavras.
9. E, voltando do sepulcro, anunciaram todas estas coisas aos onze e a todos os demais.
10. E eram Maria Madalena, e Joana, e Maria mãe de Tiago, e as outras que com elas estavam, as que diziam estas coisas aos apóstolos.
11. E as suas palavras lhes pareciam com desvario, e não as creram.
12. Pedro, porém, levantando-se, correu ao sepulcro, e, abaixando-se, viu só os lençóis ali postos; e retirou-se, admirando consigo aquele caso.
13. E eis que no mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaus;
14. E iam falando entre si de tudo aquilo que havia sucedido.
15. E aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles;
16. Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem.
17. E ele lhes disse: Que palavras são essas que, caminhando trocais entre vós, e porque estais tristes?
18. E, respondendo um, cujo nome era Cleofas, disse-lhe: És tu só peregrino em Jerusalém, e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias?
19. E ele lhes perguntou: Quais? E eles lhe disseram: As que dizem respeito a Jesus Nazareno, que foi varão profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo;
20. E como os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o entregaram à condenação de morte, e o crucificaram.
21. E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram.
22. É verdade que também algumas mulheres de entre nós nos maravilharam, as quais de madrugada foram ao sepulcro;
23. E, não achando o seu corpo, voltaram, dizendo que também tinham visto uma visão de anjos, que dizem que ele vive.
24. E alguns dos que estavam connosco foram ao sepulcro, e acharam ser assim como as mulheres haviam dito; porém a ele não o viram.
25. E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!
26. Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?
27. E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.
28. E chegaram à aldeia para onde iam e ele fez como quem ia para mais longe.
29. E eles o constrangeram, dizendo: Fica connosco, porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles.
30. E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão, o abençoou e partiu, e lho deu.
31. Abriram-se-lhe então os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes.
32. E disseram um para o outro: Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras?
33. E na mesma hora, levantando-se, tornaram para Jerusalém, e acharam congregados os onze, e os que estavam com eles;
34. Os quais diziam: Ressuscitou verdadeiramente o Senhor, e já apareceu a Simão.
35. E eles lhe contaram o que lhe acontecera no caminho, e como deles foi conhecido no partir do pão.
36. E, falando eles destas coisas, o mesmo Jesus se apresentou no meio deles, e disse-lhes: Paz seja convosco.
37. E eles espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito.
38. E ele lhes disse: Porque estais perturbados, e porque sobem tais pensamentos aos vossos corações?
39. Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo: apalpai-me e vede; pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.
40. E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés.
41. E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa de comer?
42. Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado, e um favo de mel.
43. O que ele tomou, e comeu diante deles.
44. E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos salmos.
45. Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras,
46. E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos;
47. E em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém.
48. E destas coisas sois vós testemunhas.
49. E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai: Ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.
50. E levou-os fora, até Betânia; e, levantando as suas mãos, os abençoou.
51. E aconteceu que, abençoando-os ele, se apartou deles e foi elevado ao céu.
52. E, adorando-o eles, tornaram com grande júbilo para Jerusalém.
53. E estavam sempre no templo, louvando e bem-dizendo a Deus. Amem.


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