Bíblia Completa./Com todos os livros.

Bíblia completa pT.: Lucas 7.

Cabeçalho

Lucas 7.

Capítulos
1  a  6
7  a  12
13  a  18
19  a  24     Seguinte



1. E depois de concluir todos estes discursos perante o povo, entrou em Cafernaum.
2. E o servo de um certo centurião, a quem muito estimava, estava doente, e moribundo.
3. E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-lhe uns anciãos dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o seu servo.
4. E, chegando eles junto de Jesus, rogaram-lhe muito, dizendo: É digno de que lhe concedas isto,
5. Porque ama a nossa nação, e ele mesmo nos edificou a sinagoga.
6. E foi Jesus com eles; mas, quando já estava perto da casa, enviou-lhe o centurião uns amigos, dizendo-lhe: Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado;
7. E por isso nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; diz, porém, uma palavra, e o meu criado sarará.
8. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: Vai; e ele vai; e a outro: Vem; e ele vem; e ao meu servo: Faz isto; e ele o faz.
9. E, ouvindo isto Jesus, maravilhou-se dele, e, voltando-se, disse à multidão que o seguia: Digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé.
10. E, voltando para casa os que foram enviados, acharam são o servo enfermo;
11. E aconteceu pouco depois ir ele à cidade chamada Naim, e com ele iam muitos dos seus discípulos, e uma grande multidão;
12. E quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva; e com ela ia uma grande multidão da cidade.
13. E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores.
14. E, chegando-se tocou o esquife (e os que o levavam pararam), e disse: Mancebo, a ti te digo: Levanta-te.
15. E o defunto assentou-se, e começou a falar. E entregou-o a sua mãe.
16. E de todos se apoderou o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo.
17. E correu dele esta fama por toda a Judeia e por toda a terra circunvizinha.
18. E os discípulos de João anunciaram-lhe todas estas coisas.
19. E João, chamando dois dos seus discípulos enviou-os a Jesus, dizendo: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?
20. E, quando aqueles homens chegaram junto dele, disseram: João Baptista enviou-nos a perguntar-te: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?
21. E, na mesma hora, curou muitos de enfermidades, e males, e espíritos maus, e deu vista a muitos cegos.
22. Respondendo então Jesus, disse-lhes: Ide, e anunciai a João o que tendes visto e ouvido: que os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o Evangelho.
23. E bem-aventurado é aquele que em mim se não escandalizar.
24. E, tendo-se retirado os mensageiros de João, começou a dizer à multidão acerca de João: Que saístes a ver no deserto? Uma cana abalada pelo vento?
25. Mas que saístes a ver? Um homem trajado de vestidos delicados? Eis que os que andam com preciosos vestidos, e em delícias, estão nos paços reais.
26. Mas que saístes a ver? Um profeta? Sim, vos digo, e muito mais do que profeta.
27. Este é aquele de quem está escrito: Eis que envio o meu anjo diante da tua face, o qual preparará diante de ti o teu caminho.
28. E eu vos digo que, entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João Baptista; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele.
29. E todo o povo que o ouviu e os publicanos, tendo sido baptizados com o baptismo de João, justificaram a Deus.
30. Mas os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos, não tendo sido baptizados por ele.
31. E disse o Senhor: A quem pois compararei os homens desta geração, e a quem são semelhantes?
32. São semelhantes aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns aos outros, e dizem: Tocámo-vos flauta, e não dançastes; cantámo-vos lamentações, e não chorastes.
33. Porque veio João Baptista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demónio;
34. Veio o Filho do homem, que come e bebe e dizeis: eis aí um homem comilão, e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e dos pecadores.
35. Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos.
36. E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele; e, entrando em casa do fariseu, assentou-se à mesa.
37. E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento.
38. E, estando por detrás aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés e ungia-lhos com o unguento.
39. Quando isto viu o fariseu que o tinha convidado, falava consigo, dizendo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora.
40. E respondendo, Jesus, disse-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre.
41. Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinquenta;
42. E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Diz pois qual deles o amará mais?
43. E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem.
44. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas, e mos enxugou com os seus cabelos.
45. Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés.
46. Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta ungiu-me os pés com unguento.
47. Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama.
48. E disse-lhe a ela: Os teus pecados te são perdoados.
49. E os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este, que até perdoa pecados?
50. E disse à mulher: A tua fé te salvou: vai-te em paz.

Capítulo 8.




1. E aconteceu, depois disto, que andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino, de Deus; e os doze iam com ele.
2. E algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demónios;
3. E Joana, mulher de Cusa, procurador de Herodes, e Susana, e muitas outras que o serviam com suas fazendas.
4. E, ajuntando-se uma grande multidão, e vindo de todas as cidades ter com ele, disse por parábola:
5. Um semeador saiu a semear a sua semente, e, quando semeava, caiu alguma junto do caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram;
6. E outra caiu sobre pedra, e nascida, secou-se, pois que não tinha humidade;
7. E outra caiu entre espinhos, e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram;
8. E outra caiu em boa terra, e, nascida, produziu fruto, cento por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
9. E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Que parábola é esta?
10. E ele disse: A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por parábolas, para que, vendo, não vejam, e, ouvindo, não entendam.
11. Esta é pois a parábola: A semente é a palavra de Deus;
12. E os que estão junto do caminho, estes são os que ouvem; depois vem o diabo, e tira-lhes do coração a palavra, para que se não salvem, crendo;
13. E os que estão sobre pedra, estes são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria, mas, como não têm raiz, apenas crêem por algum tempo, e no tempo da tentação se desviam;
14. E a que caiu entre espinhos, esses são os que ouviram, e, indo por diante, são sufocados com os cuidados, e riquezas e deleites da vida, e não dão fruto com perfeição;
15. E a que caiu em boa terra, esses são os que, ouvindo a palavra, a conservam num coração honesto e bom, e dão fruto com perseverança.
16. E ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com algum vaso, ou a põe debaixo da cama; mas põe-na no velador, para que os que entram vejam a luz.
17. Porque não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz.
18. Vede pois como ouvis: porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver até o que parece ter lhe será tirado.
19. E foram ter com ele sua mãe e seus irmãos, e não podiam aproximar-se dele, por causa da multidão.
20. E foi-lhe dito: Estão lá fora tua mãe e teus irmãos, que querem ver-te.
21. Mas, respondendo ele, disse-lhes: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a executam.
22. E aconteceu que, num daqueles dias, entrou num barco com seus discípulos, e disse-lhes: Passemos para a outra banda do lago. E partiram.
23. E, navegando eles, adormeceu; e sobreveio uma tempestade de vento no lago, e enchiam-se de água, estando em perigo.
24. E, chegando-se a ele, o despertaram, dizendo: Mestre, Mestre, perecemos. E ele, levantando-se, repreendeu o vento e a fúria da água; e cessaram, e fez-se bonança.
25. E disse-lhes: Onde está a vossa fé? E eles, temendo, maravilharam-se, dizendo uns aos outros: Quem é este, que até aos ventos e à água manda, e lhe obedecem?
26. E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galileia.
27. E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que desde muito tempo estava possesso de demónios, e não andava vestido, nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros.
28. E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando, e dizendo com grande voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes.
29. Porque tinha ordenado ao espírito imundo que saísse daquele homem; pois já havia muito tempo que o arrebatava. E guardavam-no preso com grilhões e cadeias; mas, quebrando as prisões, era impelido pelo demónio para os desertos.
30. E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demónios.
31. E rogavam-lhe que os não mandasse para o abismo.
32. E andava ali pastando no monte uma vara de muitos porcos; e rogaram-lhe que lhes concedesse entrar neles, e concedeu-lho.
33. E, tendo saído os demónios do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se de um despenhadeiro no lago, e afogou-se.
34. E aqueles que os guardavam, vendo o que acontecera, fugiram, e foram anunciá-lo na cidade e nos campos.
35. E saíram a ver o que tinha acontecido, e vieram ter com Jesus. Acharam então o homem, de quem haviam saído os demónios, vestido, e em seu juízo, assentado aos pés de Jesus, e temeram.
36. E os que tinham visto contaram-lhes também como fora salvo aquele endemoninhado.
37. E toda a multidão da terra dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles; porque estavam possuídos de grande temor. E, entrando ele no barco, voltou.
38. E aquele homem, de quem haviam saído os demónios, rogou-lhe que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo:
39. Torna para tua casa, e conta quão grandes coisas te fez Deus. E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito.
40. E aconteceu que, quando voltou Jesus, a multidão o recebeu, porque todos o estavam esperando.
41. E eis que chegou um varão de nome Jairo, que era príncipe da sinagoga; e, prostrando-se aos pés de Jesus, rogava-lhe que entrasse em sua casa;
42. Porque tinha uma filha única, quase de doze anos, que estava à morte. E, indo ele, apertava-o a multidão.
43. E uma mulher, que tinha um fluxo de sangue, havia doze anos, e gastara com os médicos todos os seus haveres, e por nenhum pudera ser curada,
44. Chegando por detrás dele, tocou na orla do seu vestido, e logo estancou o fluxo do seu sangue.
45. E disse Jesus: Quem é que me tocou? E, negando todos, disse Pedro e os que estavam com ele: Mestre, a multidão te aperta e te oprime, e dizes: Quem é que me tocou?
46. E disse Jesus: Alguém me tocou porque bem conheci que de mim saiu virtude.
47. Então, vendo a mulher que não podia ocultar-se, aproximou-se tremendo, e, prostrando-se ante ele, declarou-lhe diante de todo o povo a causa por que lhe havia tocado, e como logo sarara.
48. E ele lhe disse: Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz.
49. Estando ele ainda falando, chegou um dos príncipes da sinagoga, dizendo: A tua filha já está morta, não incomodes o Mestre.
50. Jesus, porém, ouvindo-o, respondeu-lhe, dizendo: Não temas; crê somente, e será salva.
51. E, entrando em casa, a ninguém deixou entrar, senão a Pedro, e a Tiago, e a João, e ao pai e à mãe da menina.
52. E todos choravam, e a pranteavam; e ele disse: Não choreis; não está morta, mas dorme.
53. E riam-se dele, sabendo que estava morta.
54. Mas ele, pegando-lhe na mão, clamou, dizendo: Levanta-te, menina.
55. E o seu espírito voltou, e ela logo se levantou; e Jesus mandou que lhe dessem de comer.
56. E seus pais ficaram maravilhados; e ele lhes mandou que a ninguém dissessem o que havia sucedido.

Capítulo 9.




1. Convocando os seus doze discípulos, deu-lhes virtude e poder sobre todos os demónios, e para curarem enfermidades;
2. E enviou-os a pregar o reino de Deus, e a curar os enfermos,
3. E disse-lhes: Nada leveis convosco para o caminho, nem bordões, nem alforge, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais dois vestidos.
4. E, em qualquer casa em que entrardes, ficai ali, e de lá saireis.
5. E, se em qualquer cidade vos não receberem, saindo vós dali, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles.
6. E, saindo eles, percorreram todas as aldeias, anunciando o evangelho, e fazendo curas por toda a parte.
7. E o tetrarca Herodes ouvia tudo o que se passava, e estava em dúvida porque diziam alguns que João ressuscitara dos mortos;
8. E outros que Elias tinha aparecido; e outros que um profeta dos antigos havia ressuscitado.
9. E disse Herodes: A João mandei eu degolar: quem é pois este de quem ouço dizer tais coisas? E procurava vê-lo.
10. E, regressando os apóstolos, contaram-lhe tudo o que tinham feito. E, tomando-os consigo, retirou-se para um lugar deserto de uma cidade chamada Betsaida.
11. E, sabendo-o a multidão, o seguiu; e ele os recebeu, e falava-lhes do reino de Deus, e sarava os que necessitavam de cura.
12. E já o dia começava a declinar; então, chegando-se a ele os doze, disseram-lhe: Despede a multidão, para que, indo aos lugares e aldeias em redor, se agasalhem, e achem que comer; porque aqui estamos em lugar deserto.
13. Mas ele lhes disse: Dai-lhes vós de comer. E eles disseram: Não temos senão cinco pães e dois peixes; salvo se nós próprios formos comprar comida para todo este povo.
14. Porquanto estavam ali quase cinco mil homens. Disse então aos seus discípulos: Fazei-os assentar, em ranchos de cinquenta em cinquenta.
15. E assim o fizeram, fazendo-os assentar a todos.
16. E, tomando os cinco pães e os dois peixes, e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos seus discípulos para os porem diante da multidão.
17. E comeram todos, e saciaram-se e levantaram, do que lhes sobejou, doze cestos de pedaços.
18. E aconteceu que, estando ele só, orando, estavam com ele os discípulos; e perguntou-lhes, dizendo: Quem diz a multidão que eu sou?
19. E, respondendo eles, disseram: João Baptista; outros, Elias, e outros que um dos antigos profetas ressuscitou.
20. E disse-lhes: E vós, quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, disse: O Cristo de Deus.
21. E, admoestando-os, mandou que a ninguém referissem isso,
22. Dizendo: É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas e seja rejeitado dos anciãos e dos escribas, e seja morto, e ressuscite ao terceiro dia.
23. E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.
24. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.
25. Porque, que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo?
26. Porque, qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória, e na do Pai e dos anjos.
27. E em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte até que vejam o reino de Deus.
28. E aconteceu que, quase oito dias depois destas palavras, tomou consigo a Pedro, a João e a Tiago, e subiu ao monte a orar.
29. E, estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e o seu vestido ficou branco e mui resplandecente.
30. E eis que estavam falando, com ele dois varões, que eram Moisés e Elias,
31. Os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte a qual havia de cumprir-se em Jerusalém.
32. E Pedro e os que estavam com ele estavam carregados de sono; e, quando despertaram, viram a sua glória e aqueles dois varões que estavam com ele.
33. E aconteceu que, quando aqueles se apartaram dele, disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é que nós estejamos aqui, e façamos três tendas, uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias; não sabendo o que dizia.
34. E, dizendo ele isto, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram.
35. E saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho; a ele ouvi.
36. E, tendo soado aquela voz, Jesus foi achado só; e eles calaram-se, e por aqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto.
37. E aconteceu, no dia seguinte, que, descendo eles do monte, lhes saiu ao encontro uma grande multidão;
38. E eis que um homem da multidão clamou, dizendo: Mestre, peço-te que olhes para meu filho, porque é o único que eu tenho.
39. Eis que um espírito o toma, e de repente clama, e o despedaça até escumar; e só o larga depois de o ter quebrantado.
40. E roguei aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam.
41. E Jesus, respondendo, disse: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei ainda convosco e vos sofrerei? Traz-me cá o teu filho.
42. E, quando vinha chegando, o demónio o derribou e convulsionou; porém Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o menino, e o entregou a seu pai.
43. E todos pasmavam da majestade de Deus. E, maravilhando-se todos de todas as coisas que Jesus fazia, disse aos seus discípulos:
44. Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos, porque o Filho do homem será entregue nas mãos dos homens.
45. Mas eles não entendiam esta palavra, que lhes era encoberta, para que não a compreendessem; e temiam interrogá-lo acerca desta palavra.
46. E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior.
47. Mas Jesus, vendo o pensamento de seus corações, tomou um menino, pô-lo junto a si,
48. E disse-lhes: Qualquer que receber este menino em meu nome, recebe-me a mim; e qualquer que me recebe a mim, recebe o que me enviou; porque aquele que entre vós todos for o menor, esse mesmo é grande.
49. E, respondendo João, disse: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava os demónios, e lho proibimos porque não te segue connosco.
50. E Jesus lhes disse: Não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós.
51. E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém.
52. E mandou mensageiros diante da sua face; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada,
53. Mas não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém.
54. E os seus discípulos. Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?
55. Voltando-se, porém repreendeu-os e disse: Vós não sabeis de que espírito sois,
56. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia.
57. E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores.
58. E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.
59. E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai.
60. Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus.
61. Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa.
62. E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.

Capítulo 10.




1. E depois disto designou o Senhor ainda outros setenta, e mandou-os adiante da sua face, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir.
2. E dizia-lhes: Grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos; rogai pois ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara.
3. Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos.
4. Não leveis bolsa, nem alforge, nem alparcas; e a ninguém saudeis pelo caminho.
5. E, em qualquer casa onde entrardes, dizei primeiro: Paz seja nesta casa.
6. E, se ali houver algum filho de paz, repousará sobre ele a vossa paz; e, se não, voltará para vós.
7. E ficai na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem, pois digno é o obreiro do seu salário. Não andeis de casa em casa.
8. E, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que vos puserem diante.
9. E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes. É chegado a vós o reino de Deus.
10. Mas em qualquer cidade em que entrardes e vos não receberem, saindo por suas ruas, dizei:
11. Até o pó, que da vossa cidade se nos pegou, sacudimos sobre vós. Sabei, contudo, isto, que já o reino de Deus é chegado a vós.
12. E digo-vos que mais tolerância haverá naquele dia para Sodoma do que para aquela cidade.
13. Ai de ti Corazim, ai de ti, Betsaida que, se em Tiro e em Sidon se fizessem as maravilhas que em vós foram feitas já há muito, assentadas em saco e cinza, se teriam arrependido.
14. Portanto, para Tiro e Sidon haverá menos rigor no juízo, do que para vós.
15. E tu, Capernaum, serás levantada até ao céu? Até ao inferno serás abatida.
16. Quem vos ouve a vós, a mim me ouve; e, quem vos rejeita a vós, a mim me rejeita; e, quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou.
17. E voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demónios se nos sujeitam.
18. E disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu,
19. Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum.
20. Mas não vos alegreis por que se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos ainda por estarem os vossos nomes escritos nos céus.
21. Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que escondestes estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve.
22. Tudo por meu Pai me foi entregue; e ninguém conhece quem é o Filho, senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
23. E, voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes;
24. Pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram.
25. E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
26. E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?
27. E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.
28. E disse-lhe: Respondeste bem; faz isso, e viverás.
29. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?
30. E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.
31. E ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
32. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e vendo-o, passou de largo.
33. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele, e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;
34. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;
35. E, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.
36. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
37. E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faz da mesma maneira.
38. E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa;
39. E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra.
40. Marta, porém, andava distraída em muitos serviços, e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que a minha irmã me deixe servir só? Diz-lhe que me ajude.
41. E, respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas,
42. Mas uma só é necessária; Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.

Capítulo 11.




1. E aconteceu que, estando ele a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos.
2. E ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu reino;
3. Dá-nos cada dia o nosso pão quotidiano;
4. E perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a qualquer que nos deve; e não nos conduzas em tentação, mas livra-nos do mal.
5. Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo à meia noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães,
6. Pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe;
7. Se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar.
8. Digo-vos que, ainda que se não levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister.
9. E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á;
10. Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á.
11. E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente?
12. Ou também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
13. Pois se, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?
14. E estava ele expulsando um demónio, o qual era mudo. E aconteceu que, saindo o demónio, o mudo falou; e maravilhou-se a multidão.
15. Mas alguns deles diziam: Ele expulsa os demónios por Belzebu, príncipe dos demónios.
16. E outros, tentando-o, pediam-lhe um sinal do céu.
17. Mas conhecendo ele os seus pensamentos, disse-lhes: Todo o reino, dividido contra si mesmo será assolado; e a casa, dividida contra si mesma, cairá.
18. E, se também Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que eu expulso os demónios por Belzebu.
19. E, se eu expulso os demónios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Eles pois serão os vossos juízes.
20. Mas, se eu expulso os demónios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus.
21. Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem;
22. Mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos.
23. Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha.
24. Quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares secos, buscando repouso; e, não o achando, diz: Tornarei para minha casa, donde saí.
25. E, chegando, acha-a varrida e adornada.
26. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado desse homem é pior do que o primeiro.
27. E aconteceu que, dizendo ele estas coisas, uma mulher de entre a multidão, levantando a voz, disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que mamaste.
28. Mas ele disse: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam.
29. E, ajuntando-se a multidão, começou a dizer: Maligna é esta geração; ela pede um sinal; e não lhe será dado outro sinal, senão o sinal do profeta Jonas;
30. Porquanto, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim o Filho do homem o será também para esta geração.
31. A rainha do sul se levantará no juízo com os homens desta geração, e os condenará; pois até dos confins da terra veio ouvir a sabedoria de Salomão; e eis aqui está quem é maior do que Salomão.
32. Os homens de Ninive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; pois se converteram com a pregação de Jonas; e eis aqui está quem é maior do que Jonas.
33. E ninguém, acendendo uma candeia, a põe em oculto, nem debaixo do alqueire, mas no velador, para que os que entram vejam a luz.
34. A candeia do corpo é o olho. Sendo pois o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo será tenebroso.
35. Vê pois que a luz que em ti há não sejam trevas.
36. Se, pois, todo o teu corpo é luminoso, não tendo em trevas parte alguma, todo será luminoso, como quando a candeia te alumia com o seu resplendor.
37. E, estando ele ainda falando, rogou-lhe um fariseu que fosse jantar com ele; e, entrando, assentou-se à mesa.
38. Mas o fariseu admirou-se, vendo que se não lavara antes de jantar.
39. E o Senhor lhe disse: Agora vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade.
40. Loucos! O que fez o exterior não fez também o interior?
41. Dai antes esmola do que tiverdes, e eis que tudo vos será limpo.
42. Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas; e não deixar as outras.
43. Ai de vós, fariseus, que amais os primeiros assentos nas sinagogas, e as saudações nas praças.
44. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que sois como as sepulturas que não aparecem, e os homens que sobre elas andam não o sabem.
45. E, respondendo um dos doutores da lei, disse-lhe: Mestre, quando dizes isso, também nos afrontas a nós.
46. E ele lhe disse: Ai de vós também, doutores da lei, que carregais os homens com cargas difíceis de transportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais essas cargas.
47. Ai de vós que edificais os sepulcros dos profetas, e vossos pais os mataram.
48. Bem testificais, pois, que consentis nas obras de vossos pais; porque eles os mataram, e vós edificais os seus sepulcros.
49. Por isso diz também a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei; e eles matarão uns, e perseguirão outros;
50. Para que desta geração seja requerido o sangue de todos os profetas que, desde a fundação do mundo, foi derramado;
51. Desde o sangue de Abel, até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo; assim, vos digo, será requerido desta geração.
52. Ai de vós, doutores da lei, que tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes os que entraram.
53. E, dizendo-lhes ele isto, começaram os escribas e os fariseus a apertá-lo fortemente, e a fazê-lo falar acerca de muitas coisas.
54. Armando-lhe ciladas, a fim de apanharem da sua boca alguma coisa para o acusarem.

Capítulo 12.




1. Ajuntando-se entretanto muitos milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros, começou a dizer aos seus discípulos: Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.
2. Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido.
3. Porquanto tudo o que em trevas dissestes à luz será ouvido; e o que falastes ao ouvido no gabinete, sobre os telhados será apregoado.
4. E digo-vos, amigos meus: Não temais os que matam o corpo, e depois não têm mais que fazer.
5. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei.
6. Não se vendem cinco passarinhos por dois ceitis? E nenhum deles está esquecido diante de Deus.
7. E até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos.
8. E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus.
9. Mas quem me negar diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus.
10. E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á perdoada, mas ao que blasfema contra o Espírito Santo não lhe será perdoado.
11. E, quando vos conduzirem às sinagogas, aos magistrados e potestades, não estejais solícitos de como ou do que haveis de responder nem do que haveis de dizer.
12. Porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar.
13. E disse-lhe um da multidão: Mestre, diz a meu irmão que reparta comigo a herança.
14. Mas ele lhe disse: Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?
15. E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.
16. E propôs-lhes uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância;
17. E arrazoava ele entre si dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos.
18. E disse: Farei isto: Derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens;
19. E direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos: descansa, come, bebe, e folga.
20. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será?
21. Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.
22. E disse aos seus discípulos: Portanto vos digo: Não estejais apreensivos pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, sobre o que vestireis.
23. Mais é a vida do que o sustento, e o corpo mais do que o vestido.
24. Considerai os corvos, que nem semeiam, nem segam, nem têm dispensa nem celeiro, e Deus os aumenta; quanto mais valeis vós do que as aves.
25. E qual de vós, sendo solícito pode acrescentar um côvado à sua estatura?
26. Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, porque estais ansiosos pelas outras?
27. Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.
28. E, se Deus assim veste a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
29. Não pergunteis, pois, que haveis de comer, ou que haveis de beber, e não andeis inquietos.
30. Porque as gentes do mundo buscam todas essas coisas; mas vosso Pai sabe que haveis mister delas.
31. Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
32. Não temas, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino.
33. Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói.
34. Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.
35. Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias.
36. E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para que quando vier, e bater, logo possam abrir-lhe.
37. Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará assentar à mesa, e, chegando-se, os servirá.
38. E, se vier na segunda vigília, e se vier na terceira vigília, e os achar assim, bem-aventurados são os tais servos.
39. Sabei, porém, isto: que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, e não deixaria minar a sua casa.
40. Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais.
41. E disse-lhe Pedro: Senhor, dizes essa parábola a nós, ou também a todos?
42. E disse o Senhor: Qual é pois o mordomo fiel e prudente, a quem o Senhor pôs sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração?
43. Bem-aventurado aquele servo a quem o senhor, quando vier, achar fazendo assim.
44. Em verdade vos digo que sobre todos os seus bens o porá.
45. Mas, se aquele servo disser em seu coração: O meu Senhor tarda em vir; e começar a espancar os criados e criadas, e a comer, e a beber, e a embriagar-se,
46. Virá o Senhor daquele servo no dia em que o não espera, e numa hora que ele não sabe, e separá-lo-á, e lhe dará a sua parte com os infiéis.
47. E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites;
48. Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou muito mais se lhe pedirá.
49. Vim lançar fogo na terra; e que mais quero, se já está aceso?
50. Importa, porém, que seja baptizado com um certo baptismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se!
51. Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, mas antes dissensão.
52. Porque daqui em adiante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três.
53. O pai estará dividido contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra.
54. E dizia também à multidão: Quando vedes a nuvem que vem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva, e assim sucede.
55. E, quando assopra o sul, dizeis: Haverá calma; e assim sucede.
56. Hipócritas, sabeis discernir a face da terra e do céu; como não sabeis então discernir este tempo?
57. E porque não julgais também por vós mesmos o que é justo?
58. Quando pois vais com o teu adversário ao magistrado, procura livrar-te dele no caminho; para que não suceda que te conduza ao juiz, e o juiz te entregue ao meirinho, e o meirinho te encerre na prisão.
59. Digo-te que não sairás dali enquanto não pagares o derradeiro ceitil.


Editar
LER
Antigo---35-x
Novo----35-x