Bíblia Completa./Com todos os livros.

Bíblia completa pT.: Jó 15

Cabeçalho

Jó 15

Capítulos
1  a  7
8  a  14
15  a  21
22  a  28
29  a  35
36  a  42   Salmos



1. Então, respondeu Elifaz, o temanita, e disse:
2. Porventura, dará o sábio, em resposta, ciência de vento? E encherá o seu ventre de vento oriental,
3. Arguindo com palavras que de nada servem e com razões que de nada aproveitam?
4. E tu tens feito vão o temor e diminuis os rogos diante de Deus.
5. Porque a tua boca declara a tua iniquidade; e tu escolheste a língua dos astutos.
6. A tua boca te condena, e não eu; e os teus lábios testificam contra ti.
7. És tu, porventura, o primeiro homem que foi nascido? Ou foste gerado antes dos outeiros?
8. Ou ouviste o secreto conselho de Deus e a ti somente limitaste a sabedoria?
9. Que sabes tu, que nós não saibamos? Que entendes, que não haja em nós?
10. Também há entre nós encanecidos e idosos, muito mais idosos do que teu pai.
11. Porventura, as consolações de Deus te são pequenas? Ou alguma coisa se oculta em ti?
12. Por que te arrebata o teu coração e por que piscas os teus olhos,
13. Para virares contra Deus o teu espírito e deixares sair tais palavras da tua boca?
14. Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce da mulher, para que fique justo?
15. Eis que nos seus santos não confiaria, e nem os céus são puros aos seus olhos.
16. Quanto mais abominável e corrupto é o homem, que bebe a iniquidade como a água?
17. Escuta-me, e mostrar-to-ei; e o que vi te contarei;
18. O que os sábios anunciaram, e o que ouviram de seus pais, e não ocultaram
19. Aos quais somente se dera a terra, e nenhum estranho passou por entre eles:
20. Todos os dias o ímpio se dá pena a si mesmo, no curto número de anos que se reservam para o tirano.
21. O sonido dos horrores está nos seus ouvidos; até na paz lhe sobrevém o assolador.
22. Não crê que tornará das trevas, mas que o espera a espada.
23. Anda vagueando por pão, dizendo: Onde está? Bem sabe que o dia das trevas lhe está perto, à mão.
24. Assombram-no a angústia e a tribulação; prevalecem contra ele, como o rei preparado para a peleja.
25. Porque estendeu a sua mão contra Deus e contra o Todo-poderoso se embraveceu.
26. Arremete contra ele com dura cerviz e com os pontos grossos dos seus escudos.
27. Porquanto cobriu o rosto com a sua gordura e criou enxúndias nas ilhargas.
28. E habitou em cidades assoladas, em casas em que ninguém morava, que estavam a ponto de fazer-se montões de ruínas.
29. Não se enriquecerá, nem subsistirá a sua fazenda, nem se estenderão pela terra as suas possessões.
30. Não escapará das trevas; a chama do fogo secará os seus renovos e, ao assopro da boca de Deus, desaparecerá.
31. Não confie, pois, na vaidade enganando-se a si mesmo, porque a vaidade será a sua recompensa.
32. Antes do seu dia ela se consumará; e o seu ramo não reverdecerá.
33. Sacudirá as suas uvas verdes, como as da vide, e deixará cair a sua flor como a da oliveira.
34. Porque o ajuntamento dos hipócritas se fará estéril, e o fogo consumirá as tendas do suborno.
35. Concebem o trabalho e produzem a iniquidade; e o seu ventre prepara enganos.

Capítulo 16.




1. Então, respondeu Jó e disse:
2. Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos.
3. Porventura, não terão fim estas palavras de vento? Ou que te irrita, para assim responderes?
4. Falaria eu também como vós falais, se a vossa alma estivesse em lugar da minha alma? Ou amontoaria palavras contra vós e menearia contra vós a minha cabeça?
5. Antes, vos fortaleceria com a minha boca, e a consolação dos meus lábios abrandaria a vossa dor.
6. Se eu falar, a minha dor não cessa; e, calando-me, qual é o meu alívio?
7. Na verdade, agora me molestou; tu assolaste toda a minha companhia.
8. Testemunha disto é que já me fizeste enrugado, e a minha magreza já se levanta contra mim e no meu rosto testifica contra mim.
9. Na sua ira, me despedaçou, e ele me perseguiu; rangeu os dentes contra mim; aguça o meu adversário os olhos contra mim.
10. Abrem a boca contra mim; com desprezo me feriram nos queixos e contra mim se ajuntam todos.
11. Entrega-me Deus ao perverso e nas mãos dos ímpios me faz cair.
12. Descansado estava eu, porém ele me quebrantou; e pegou-me pelo pescoço e me despedaçou; também me pôs por seu alvo.
13. Cercam-me os seus flecheiros; atravessa-me os rins e não me poupa; e o meu fel derrama pela terra.
14. Quebranta-me com golpe sobre golpe; arremete contra mim como um valente.
15. Cosi sobre a minha pele o cilício e revolvi a minha cabeça no pó.
16. O meu rosto todo está descorado de chorar, e sobre as minhas pálpebras está a sombra da morte,
17. Apesar de não haver violência nas minhas mãos e de ser pura a minha oração.
18. Ah! terra, não cubras o meu sangue; e não haja lugar para o meu clamor!
19. Eis que também, agora, está a minha testemunha no céu, e o meu fiador, nas alturas.
20. Os meus amigos são os que zombam de mim; os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus.
21. Ah! Se alguém pudesse contender com Deus pelo homem, como o filho do homem pelo seu amigo!
22. Porque, decorridos poucos anos, eu seguirei o caminho por onde não tornarei.

Capítulo 17.




1. O meu espírito se vai consumindo, os meus dias se vão apagando, e só tenho perante mim a sepultura.
2. Porventura, não estão zombadores comigo? E os meus olhos não contemplam as suas amarguras?
3. Promete agora, e dá-me um fiador para contigo; quem há que me dê a mão?
4. Porque ao seu coração encobriste o entendimento, pelo que não os exaltarás.
5. O que, lisonjeando, fala aos amigos, também os olhos de seus filhos desfalecerão.
6. Mas a mim me pôs por um provérbio dos povos, de modo que me tornei uma abominação para eles.
7. Pelo que já se escureceram de mágoa os meus olhos e já todos os meus membros são como a sombra;
8. Os rectos pasmarão disto, e o inocente se levantará contra o hipócrita.
9. E o justo seguirá o seu caminho firmemente, e o puro de mãos irá crescendo em força.
10. Mas, na verdade, tornai todos vós e vinde cá; porque sábio nenhum acho entre vós.
11. Os meus dias passaram, e malograram-se os meus propósitos, as aspirações do meu coração.
12. Trocaram a noite em dia; a luz está perto do fim, por causa das trevas.
13. Se eu olhar a sepultura como a minha casa; se nas trevas estender a minha cama;
14. Se à corrupção clamar: tu és meu pai; e aos bichos: vós sois minha mãe e minha irmã;
15. Onde estaria, então, agora, a minha esperança? Sim, a minha esperança, quem a poderá ver?
16. Ela descerá até aos ferrolhos do Seol, quando juntamente no pó teremos descanso.

Capítulo 18.




1. Então, respondeu Bildade, o suíta, e disse:
2. Até quando usareis artifícios em vez de palavras? Considerai bem, e, então, falaremos.
3. Por que somos tratados como animais, e como imundos aos vossos olhos?
4. Ó tu, que despedaças a tua alma na tua ira, será a terra deixada por tua causa? Remover-se-ão as rochas do seu lugar?
5. Na verdade, a luz dos ímpios se apagará, e a faísca do seu lar não resplandecerá.
6. A luz se escurecerá nas suas tendas, e sua lâmpada sobre ele se apagará.
7. Os seus passos firmes se estreitarão, e o seu próprio conselho o derribará.
8. Porque por seus próprios pés é lançado na rede e andará nos fios enredados.
9. O laço o apanhará pelo calcanhar, e prevalecerá contra ele o salteador.
10. Está escondida debaixo da terra uma corda; e uma armadilha, na vereda.
11. Os assombros o espantarão em redor e o farão correr de uma parte para a outra, por onde quer que apresse os passos.
12. O seu poder será faminto, e a destruição está pronta ao seu lado.
13. Ela devorará os membros do seu corpo; sim, o primogénito da morte devorará os seus membros.
14. Será arrancado da sua tenda, onde estava confiado, e será levado ao rei dos terrores.
15. Morará na sua tenda aquele que nada lhe era; espalhar-se-á enxofre sobre a sua habitação.
16. Por baixo, se secarão as suas raízes, e, por cima, serão cortados os seus ramos.
17. A sua memória perecerá na terra, e pelas praças não terá nome.
18. Da luz o lançarão nas trevas e afugentá-lo-ão do mundo.
19. Não terá filho nem neto entre o seu povo, e resto nenhum dele ficará nas suas moradas.
20. Do seu dia se espantarão os vindouros, e os antigos serão sobressaltados de horror.
21. Tais são, na verdade, as moradas do perverso, e este é o lugar do que não conhece a Deus.

Capítulo 19.




1. Respondeu, porém, Jó e disse:
2. Até quando entristecereis a minha alma e me quebrantareis com palavras?
3. Já dez vezes me envergonhastes; vergonha não tendes de contra mim vos endurecerdes.
4. Embora haja eu, na verdade, errado, comigo ficará o meu erro.
5. Se deveras vos levantais contra mim e me arguís pelo meu opróbrio,
6. Sabei agora que Deus é que me transtornou e com a sua rede me cercou.
7. Eis que clamo: Violência! Mas não sou ouvido; grito: Socorro! Mas não há justiça.
8. O meu caminho ele entrincheirou, e não posso passar; e nas minhas veredas pôs trevas.
9. Da minha honra me despojou; e tirou-me a coroa da minha cabeça.
10. Quebrou-me de todos os lados, e eu me vou; e arrancou a minha esperança, como a uma árvore.
11. E fez inflamar contra mim a sua ira e me reputou para consigo como um de seus inimigos.
12. Juntas vieram as suas tropas, e prepararam contra mim o seu caminho, e se acamparam ao redor da minha tenda.
13. Pôs longe de mim a meus irmãos, e os que me conhecem deveras me estranharam.
14. Os meus parentes me deixaram, e os meus conhecidos se esqueceram de mim.
15. Os meus domésticos e as minhas servas me reputaram como um estranho; vim a ser um estrangeiro aos seus olhos.
16. Chamei a meu criado, e ele me não respondeu; cheguei a suplicar com a minha boca.
17. O meu bafo se fez estranho a minha mulher; e a minha súplica, aos filhos do meu corpo.
18. Até os rapazes me desprezam, e, levantando-me eu, falam contra mim.
19. Todos os homens do meu secreto conselho me abominam, e até os que eu amava se tornaram contra mim.
20. Os meus ossos se apegaram à minha pele e à minha carne, e escapei só com a pele dos meus dentes.
21. Compadecei-vos de mim, amigos meus, compadecei-vos de mim, porque a mão de Deus me tocou.
22. Por que me perseguis assim como Deus, e da minha carne vos não fartais?
23. Quem me dera, agora, que as minhas palavras se escrevessem! Quem me dera que se gravassem num livro!
24. E que, com pena de ferro e com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha!
25. Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra.
26. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus.
27. Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, o verão; e, por isso, o meu coração se consome dentro de mim.
28. Na verdade, que devíeis dizer: Por que o perseguimos? Pois a raiz da acusação se acha em mim.
29. Temei vós mesmos a espada; porque o furor traz os castigos da espada, para saberdes que há um juízo.

Capítulo 20.




1. Então, respondeu Zofar, o naamatita, e disse:
2. Visto que os meus pensamentos me fazem responder, eu me apresso.
3. Eu ouvi a repreensão, que me envergonha, mas o espírito do meu entendimento responderá por mim.
4. Porventura, não sabes tu que desde a antiguidade, desde que o homem foi posto sobre a terra,
5. O júbilo dos ímpios é breve, e a alegria dos hipócritas, apenas de um momento?
6. Ainda que a sua altura suba até ao céu, e a sua cabeça chegue até às nuvens,
7. Como o seu próprio esterco perecerá para sempre; e os que o viam dirão: Onde está?
8. Como um sonho, voa, e não será achado, e será afugentado como uma visão da noite.
9. O olho que o viu jamais o verá, nem olhará mais para ele o seu lugar.
10. Os seus filhos procurarão agradar aos pobres, e as suas mãos restaurarão a sua fazenda.
11. Os seus ossos estão cheios do vigor da sua juventude, mas deitar-se-ão com ele no pó.
12. Ainda que o mal lhe seja doce na boca, e ele o esconda debaixo da sua língua,
13. E o guarde, e o não deixe, antes, o retenha no seu paladar,
14. Contudo, a sua comida se mudará nas suas entranhas; fel de áspides será interiormente.
15. Engoliu fazendas, mas vomitá-las-á; do seu ventre, Deus as lançará.
16. Veneno de áspides sorverá; língua de víbora o matará.
17. Não verá as correntes, os rios e os ribeiros de mel e manteiga.
18. Restituirá o seu trabalho e não o engolirá; conforme o poder de sua mudança, não saltará de gozo,
19. Porque oprimiu, desamparou os pobres e roubou a casa que não edificou;
20. Porquanto não sentiu sossego no seu ventre, da sua tão desejada fazenda coisa nenhuma reterá.
21. Nada lhe sobejará para comer; pelo que a sua fazenda não será durável.
22. Sendo plena a sua abastança, estará angustiado; toda a mão dos miseráveis virá sobre ele.
23. Haja, porém, ainda, de que possa encher o seu ventre, e Deus mandará sobre ele o ardor da sua ira e a fará chover sobre ele quando for comer.
24. Ainda que fuja das armas de ferro, o arco de aço o atravessará.
25. Arrancará o dardo do seu corpo, e resplandecente virá do seu fel; e haverá sobre ele assombros.
26. Toda a escuridão se ocultará nos seus esconderijos; um fogo não assoprado o consumirá, e devorará o que ficar na sua tenda.
27. Os céus manifestarão a sua iniquidade; e a terra se levantará contra ele.
28. As rendas de sua casa serão transportadas; no dia da sua ira, todas se derramarão.
29. Esta, da parte de Deus, é a porção do homem ímpio; esta é a herança que Deus lhe reserva.


Capítulo 21.




1. Respondeu, porém, Jó e disse:
2. Ouvi atentamente as minhas razões; e isto vos sirva de consolação.
3. Sofrei-me, e eu falarei; e, havendo eu falado, zombai.
4. Porventura, eu me queixo a algum homem? Mas, ainda que assim fosse, por que se não angustiaria o meu espírito?
5. Olhai para mim e pasmai; e ponde a mão sobre a boca,
6. Porque, quando me lembro disto, me perturbo, e a minha carne é sobressaltada de horror.
7. Por que razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se esforçam em poder?
8. A sua semente se estabelece com eles perante a sua face; e os seus renovos, perante os seus olhos.
9. As suas casas têm paz, sem temor; e a vara de Deus não está sobre eles.
10. O seu touro gera e não falha; pare a sua vaca e não aborta.
11. Fazem sair as suas crianças como a um rebanho, e seus filhos andam saltando.
12. Levantam a voz ao som do tamboril e da harpa e alegram-se ao som das flautas.
13. Na prosperidade gastam os seus dias e num momento descem à sepultura.
14. E, todavia, dizem a Deus: Retira-te de nós; porque não desejamos ter conhecimento dos teus caminhos.
15. Quem é o Todo-poderoso, para que nós o sirvamos? E que nos aproveitará que lhe façamos orações?
16. Vede, porém, que o seu bem não está na mão deles; esteja longe de mim o conselho dos ímpios!
17. Quantas vezes sucede que se apaga a candeia dos ímpios, e lhes sobrevém a sua destruição? E Deus, na sua ira, lhes reparte dores!
18. Porque são como a palha diante do vento, e como a pragana, que arrebata o redemoinho.
19. Deus guarda a sua violência para os filhos deles, e aos ímpios dá o pago, para que o conheçam.
20. Seus olhos vêem a sua ruína, e ele bebe do furor do Todo-poderoso.
21. Porque, que prazer teria na sua casa depois de si, cortando-se-lhe o número dos seus meses?
22. Porventura, a Deus se ensinaria ciência, a ele que julga os excelsos?
23. Um morre na força da sua plenitude, estando todo quieto e sossegado.
24. Os seus baldes estão cheios de leite, e os seus ossos estão regados de tutanos.
25. E outro morre, ao contrário, na amargura do seu coração, não havendo provado do bem.
26. Juntamente jazem no pó, e os bichos os cobrem.
27. Eis que conheço bem os vossos pensamentos; e os maus intentos com que injustamente me fazeis violência.
28. Porque direis: Onde está a casa do príncipe e onde a tenda em que morava o ímpio?
29. Porventura, o não perguntastes aos que passam pelo caminho e não conheceis os seus sinais?
30. Que o mau é preservado para o dia da destruição e arrebatado no dia do furor?
31. Quem acusará diante dele o seu caminho? E quem lhe dará o pago do que faz?
32. Finalmente, é levado à sepultura e vigia no túmulo.
33. Os torrões do vale lhe são doces, e ele arrasta após si a todos os homens; e antes dele havia inumeráveis.
34. Como, pois, me consolais em vão? Pois nas vossas respostas só há falsidade.


Editar
LER
Antigo---35-x
Novo----35-x